História de Afeto – Nájla e Bada: Vencendo o preconceito com AMOR!
“Nunca houve uma “cena”, mas os olhares, o que não se fala, foi ficando muito pesado…”
Nájla e Bada se conheceram na fila de inscrição do encontro de jovens da igreja católica! Nájla tinha saído de um relacionamento há pouco tempo e estava péssima, de ressaca, saiu de casa atrasada e foi toda “sexy” comendo biscoito de polvilho. Ofereceu biscoito pra Bada – “porque eu tinha CERTEZA que ele tava achando ridículo aquela pessoa descabelada com um saco de biscoito na mão. E foi só isso! Nem conversamos!”
Durante a semana, em conversa com a amiga que a convidou pro encontro, Nájla perguntou: – “Mari, você conhece aquele menino de dread que tava lá?”. Ela na hora perguntou meio assustada: – “Uai, você gostou dele? Ele me pediu seu telefone, mas eu falei que era sem chance com você!” – “Eu ri e falei que era pra ela mandar naquela hora uma mensagem pra ele com meu número (não tinha zap na época)”. E então começaram trocar mensagens! Mas como Bada é músico e na época trabalhava em banda de baile, custou dar certo um encontro! E o primeiro beijo foi no primeiro jogo do Brasil na copa 2010.
O difícil início de tudo…
No começo, Nájla não queria nada sério, pois tinha saído muito machucada de um relacionamento! Mas Bada conquistou exatamente por não forçar nada, respeitou o tempo, o espaço e a fase de Nájla (ele é 12 anos mais velho que ela e respeitava a fase gostosa da faculdade que ela vivia, as festas, calouradas que, muitas vezes ele estava trabalhando e não podia ir, mas fazia questão que ela fosse e vivesse tudo!).
“Ele me ensinou sobre RESPEITO! Sobre meu valor e meu “lugar no mundo”. Eu me lembro de um dia que ele me perguntou por que eu alisava o cabelo e eu disse que ele JAMAIS me veria sem progressiva, que eu amava meu cabelo assim e pronto! Eu não respondi, mas passei um bom tempo (anos) pensando naquilo e só consegui responder essa pergunta depois que engravidei. Mas nunca foram só flores…”
Com Bada, Nájla descobriu que racismo existe e está escancarado, mas nós, presos na nossa bolha branca preconceituosa e cega, não queremos ver! – “Não gosto de “remoer” histórias, eu acho que a parte bonita é aprender com as dores e seguir em frente, de alma livre, sem focar no que já foi superado!”
Juntos são mais fortes!
Foram inúmeras as situações preconceituosas pelas quais passaram na família, no trabalho (e ainda são, mas hoje eles estão muito mais fortalecidos). Chegou uma hora que isso pesou muito pra Bada e ele pediu um tempo pra pensar e ver se daria conta de manter a relação! Após um tempo, conversaram e viram que era mais difícil ficar longe que junto! Voltaram e decidiram que iriam ter posturas diferentes pra enfrentar os preconceitos e os desafios da relação!
“Nunca houve uma “cena”, mas os olhares, o que não se fala, foi ficando muito pesado e terminamos de novo. Eu fiquei péssima, tinha uma viagem programada pra Europa e resolvi que ia viajar e “fodas” o mundo!”
“No primeiro dia em Paris recebo 3000 zaps com a foto dele na capa do Estado de Minas no carnaval! Isso acabou com a minha viagem, chorei uns três dias, mas tomando champanhe na beira do rio Sena!” – hahahaha adoro!!!!
Nájla voltou de viagem, mas eles ficaram 5 meses sem ter praticamente nenhum contato! Até que um dia Bada liga pra ela dizendo que seu cachorro estava doente, se ela podia ajudar – “oi?! Eu sou ginecologista e obstetra?! Eu senti que ele queria falar mais, mas foi só isso! E ele desligou!”
Surgiu uma oportunidade de encontrar Bada no Serro e Nájla estava cheia de plantão, mas queria muito ir! E foi! Se virou “nos 30” e foi! Como ela mesma disse, bem estilo Lisbela e o Prisioneiro:
“O amor me chamou pra um outro lado e eu fui atrás dele. Eu pensei que se eu não fosse, a minha vida inteira ia ser assim. Vida de tristeza, vida de quem quis de corpo e alma e mesmo assim não fez. Daí eu fui. Eu fui e vou, toda vez que o amor me chamar, vocês entendem? Como um cachorrinho, mas coroada como uma rainha.”
Ownnn que trem mais lindo!!!!!
Ela foi sem saber o que iria acontecer! Foi de carona! Inventou pra todo mundo que daria plantão em Diamantina! E depois dessa viagem nunca mais se separaram!
O amor tudo supera!
Pouco tempo depois de voltarem, foram morar juntos, marcaram a data do casamento e resolveram que queriam um filho! Nájla engravidou!
“Seguimos a vida juntos! E eu seria mãe de uma menina preta! Toda nossa história já tinha me ensinado que racismo é muuuuuito pesado, a maternidade me esfregava na cara que o machismo é cruel ! E eu, no turbilhão de hormônios da gravidez, entendi que seria mãe de uma menina preta! E o que eu poderia fazer pra torná-la forte? Porque eu sabia que protegê- la de tudo não seria possível.”
Entendendo que a melhor forma de empoderar alguém é trazendo a ela a sua ancestralidade, Nájla começou a ler sobre cultura afro brasileira e viu um termo que mexeu muito com ela: UMBUTU (Sou porque somos!) e viu que numa casa de candomblé próxima de seu trabalho teria uma palestra a respeito!
“Eu não sabia NADA sobre candomblé, mas eu quis ir… e fui! O Bada morria de preconceito, (ele era muito católico) mas como já falei, ele sempre respeitou muito as minhas escolhas, eu fui e me apaixonei! Não entendi quase nada do que ouvi, mas descobri que era uma série de estudos sobre vários temas religiosos, políticos, sociais e eu passei a frequentar!”
Um dia a mãe de santo chamou Nájla pra “Águas de Oxalá”, uma festa que celebra o início do ano litúrgico! E foi aí que ela sentiu que pertencia àquele espaço, um sentimento que nunca havia experimentado em nenhuma situação religiosa! Seu coração encontrou as raízes que buscava para sua filha! Bada um dia resolveu acompanhá-la e por lá ficou!
Chegou o dia de Maria Letícia (Lelê) nascer! E agora eram três, com as loucuras e delícias da maternidade/ paternidade.
Em setembro de 2018 Nájla iniciou no candomblé e, a mulher que falou que nunca deixaria ser vista sem progressiva, desnudou a alma e deixou raspar a cabeça num ritual lindo e cheio de significados!
“O candomblé ressignificou nossa história, nos trouxe pra perto um do outro e nos deu uma família! Nos fez entender a beleza e a grandeza dos processos que vivemos!”
A representação da força do amor
Nájla me procurou com uma proposta linda e muito forte para uma joia especial! Seria seu aniversário de casamento e ela queria um presente que contasse tudo que viveram: “não porque acho que devemos supervalorizar o preconceito e as dificuldades, mas porque de fato, sou grata por todos os caminhos que nos trouxeram ao lugar que estamos. Conheço a Ana desde sempre, porque somos da mesma cidade e sempre admirei o trabalho dela. Não consegui pensar em mais ninguém que pudesse fazer essa joia.”
A escolha lotada de significado foi um pingente! O coração simboliza a força do amor de Nájla e Bada. A direita vem o Oxê de Sàngó, e a esquerda a espada de Oya, pra lembrar a força ancestral que os acompanha (ele é de Sangó e ela de Oya). Um ao lado do outro, em posição de igualdade! O fogo vem embaixo pra lembrar da beleza e da grandiosidade do encontro deles!
“Oyá é aquela que divide com Sangó o asé do fogo, ela é a sua escolhida para acompanhá-lo nas batalhas e JUNTOS eles alcançaram grandes vitórias.” Por fim, as setas representam a fusão desses 4 elementos, formando o que de mais preciosos eles têm nessa vida: a filhinha Lelê!. Ela vem representada por uma pedra preciosa: o rubi, pedra ligada ao amor e a fidelidade.
Ná, querida! Sua história é fonte de amor e inspiração para muita gente! Você representa muitas vozes caladas, muitos nós na garganta precisando serem soltos! Admiro sua força e determinação! Você, Bada e Lelê formam uma família linda, feliz e estruturada! Muitas bênçãos a vocês!!! Obrigada pelo carinho e confiança! Amei fazer parte dessa história tão forte!